No final, lá estava eu, intercalando
entre vomitar, chorar e também tomando calmante na tentativa melhorar o estado
emocional. Só naquele momento, no sofá da sala de minha casa, estava me dando
conta do que eu havia presenciado. Saldo de dois mortos e quase 10 feridos na
cadeia de Botucatu.
Era um final de tarde em
meados de julho de 1997. O Haroldo Amaral,
então diretor de redação do Diário da Serra, havia saído para fazer uma reportagem
sobre algo tranquilo com o fotógrafo Sidney Trovão, mas nem me lembro o assunto.
Eu era chefe de reportagem e estava na redação, preparando o fechamento da
edição.
Logo mais o Haroldo me ligou
contando que ele e o Trovão resolveram seguir uma viatura que passou em alta
velocidade e com sirene ligada. A viatura parou em frente a cadeia de Botucatu,
no Bairro Alto, onde formava-se uma grande agitação com policiais chegando e os
dois perceberam uma fumaça saindo do prédio. Assim, logo entenderam que era um
problema sério.
Sabendo da gravidade dos
fatos, me apressei e fui para a cadeia. Por um lado era meu dever ficar e
terminar o processo de fechamento para a nossa gráfica rodar a edição a tempo,
mas algo dentro de mim dizia que o melhor era me juntar aos outros dois integrantes
da equipe. Os demais repórteres já tinham terminado suas coisas e ido cada qual
para sua casa. O diagramador Edil Gomes e o impressor gráfico Marcos Tinós ficaram
lá, parados, esperando alguma notícia.
Na cadeia realmente o clima
era dos piores. A liderança da rebelião tinha sido assumida por um preso bastante
jovem, recém-transferido para cá e chamado de Léozinho pelos companheiros. Um
delegado me disse no local que na verdade o rapaz era o interlocutor e não o
líder. Mas enfim, o detendo se apresentou como mentor e assim ficou conhecido. Começaram
a torturar vários detentos. Os castigos começaram à noite, mas só terminaram no
dia seguinte, embora as vítimas de assassinato tenham sucumbido antes.
Como jornalista consegui
alguns furos de reportagem que contarei em próximo artigo, na semana que vem. Como
cidadão vi a fragilidade de todos diante de tais fatos. Como ser humano,
lamentei a que ponto chegamos... Desde então tenho pensado cada vez mais em uma
célebre frase de Jean-Jacques Rousseau: “Todo homem nasce bom, mas a sociedade
o corrompe"..
Apenas para dar uma ideia do
que eu tenho a contar, uma bomba quase explodiu ao meu lado, quase os presos
derrubaram uma parede e ganharam a rua, dei o furo com os nomes dos presos
assassinados, confirmei a notícia da morte de um preso para sua amante e ainda
tive a tristeza de saber que uma mãe, que tinha tido a filha estuprada por seu
marido e o havia denunciado, lhe fazia visitas na cadeia - e sendo assim, na
minha opinião e pelo meu conceito, ela foi de heroína a vilã na mesma história.
E ainda eu ajudei a Rádio
Clube na sua cobertura da rebelião e do meu celular ficava passando informações
ao vivo, enquanto fazia a cobertura para o Diário da Serra, depois com reforço outros
integrantes da equipe que se juntaram a mim, ao Haroldo e ao Trovão.
O
assunto foi sugestão do Douglas Fernandes, cara de fino trato, bom ouvinte, propenso
a ser jornalista e a quem mando daqui um abraço.
Stéfano
Garzezi Cassetari